
Nunca acreditei nas tardes alegres. Preocupava-me a obsessão por raios solares e multidões reunidas. Rostos felizes e suados me afligiam, além das praças que carregavam consigo as risadas de fim de tarde. Também não acreditava naqueles olhos que me observavam, querendo me decifrar. Naquela voz que insistia para que eu não partisse e encarasse aquela tarde, sentada em um banco de praça, que já presenciava tons de cinza-escuro.
Sentei-me uns dois palmos ao seu lado, mais por receio que por qualquer outra coisa, e me vi procurando uma aproximação mínima que fosse, e calculava as chances dela me pedir que chegasse mais perto. Compartilhar carência era uma razão justa e um pressuposto ideal para aquelas horas que passavam aos ventos fortes e às nuvens que já alertavam sua aparição. Aproximei-me com o desejo de nunca mais me afastar de tais braços que gesticulavam ao meu lado, acompanhando uma voz que eu não conseguia traduzir os tons e os desejos. Despencando o corpo para frente, com o intuito de amarrar cadarços teimosos, senti aquela que seria a sensação de maior significância, apesar da dúvida e da simplicidade: "consigo ouvir seu coração bater". Com os ouvidos colados nas minhas costas e os braços me rodeando; meio que formavam um ciclo aqueles gestos que talvez transparecessem afeto ou solidão, me pegaram totalmente de surpresa. E ali pensei que quaisquer gotas de perfume contidas naquelas orelhas agora residiam em parte atrás do meu corpo. Voltei à posição ereta, encostando delicadamente as costas no banco, como que para não perder a sensação de minutos atrás, e revelei uma tranquilidade quase inexistente.
Encostei a cabeça em seu ombro, como se encosta um pano úmido na testa para sentir que a febre abaixou, e dormi. Dormi sem alarde, sem pretensão. Dormi porque era o gesto ideal. Não sei se por segundos ou horas, senti digitais deixando marcas em meu queixo, querendo se livrar de fios que meus cabelos soltavam pelo ar. Não pude pensar em mais nada, apenas em como as tardes se transformam e levam pessoas consigo. Como se acolhe algo que se quer esconder, abracei-a. Assim mesmo, de lado. Abraços que não veem olhos nem boca. Abraços que se escondem e parecem infinito. "Ela é toda sensação", pensei. "Ela é toda maresia que se encaixa com perfeição nas nuvens cinzas".
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