Motoristas de ônibus são loucos, ela dizia.

Motoristas de ônibus são loucos, agora eu compreendo. Vejo seus olhos refletindo no espelho, a testa sempre enrugada. Há aproximadamente cinco pessoas nesse ônibus, além de mim. E penso que para ele, o senhor que nos guia, todos poderiam morrer ali mesmo, ele certamente não ligaria. Jogaria o veículo da ponte e acabaria com a sua vida medíocre, com a de todos nós.
A chuva atrapalha a sua visão, e é isso o que ele quer, eu imagino. Ele quer uma desculpa para não ser o único culpado pela nossa morte. Acontece que o rio hoje não está do seu lado, ele está completamente seco. Por isso acredito que ele não está disposto a cair em um monte de lama, então não será desta vez. Sinto muito.
Hoje eu compreendi o quanto os motoristas de ônibus são loucos. Ele não dá a mínima quando eu borro enquanto escrevo sentada na última poltrona.