11 outubro, 2014

Como eu amo

                                                                                               Eu amo tudo o que não dá para amar. Amo dez vezes por dia; vinte, se for preciso. Amo sem jeitinho, sem cautela. Tenho a pressa de um amor para poder amar quando eu puder. O amor nunca bate na minha porta, assim tão fácil, tão sem-ter-o-que-fazer. Eu procuro por ele, corro, subo montanhas, crio assas, vou a luta! Amo o que vier na minha frente. Qualquer coisa. O palito de picolé que o vizinho jogou na calçada suja, tão indelicadamente, querendo se livrar de um fardo que agora me pertence. O palito de picolé me pertence, eu agora o amo. Ninguém diria que eu amaria assim, sem jeitinho, sem cautela; hoje ninguém diz que um dia eu já amei diferente. Nada de "meu amorzinho" pra cá, nem pra lá, pra lugar nenhum. Só quem ama assim, desse jeito mesmo, como eu, entende o real significado de amar desta forma. Amar, amar, amar, amar muito. Agradeço àquele que inventou essa palavra. Talvez ele amasse assim, desta forma, como eu amo. Talvez ele subisse montanhas; corresse quilômetros de distância; puxava suas asas pra cima, com força, muita força. Talvez ele não tivesse esse jeitinho, essa cautela. Assim, como eu. Eu amo qualquer tipo de amor, do jeito que eu encontrei ele. Amor bandido, amor carnal, amor não-romântico, amor fora de hora, amor indelicado, amor insensível, amor sem pudor, sem favor, amor impuro, amor efêmero, amor platônico... Amor desse jeito mesmo, sem jeitinho, sem cautela; do jeito que for. Infelizes são aqueles que não conseguem, que não podem. Eu amo porque alguma coisa alguém tem que amar.

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