(...) bem que você poderia ter barba.

o que é que existe em você
que eu ainda esqueço minha mão no teu rosto?
eu tenho medo
de me esquecer em você por muito tempo
e você acabar se esquecendo de mim
como uma mão na maçaneta,
como uma toalha em cima da cama.

eu tenho escrito pra você todos os dias
cortei minhas unhas
só pra você parar de reclamar
do meu desgaste emocional
e dizer que as vezes eu me descuido.
às vezes eu me descuido e não te ligo.

hoje cedo
pendurei teu casaco no varal
pra que meu cheiro fosse levado pelo vento
e chegasse até você
e você dissesse: eu conheço esse perfume
de algum lugar do universo
de alguma dobra de pescoço
de algum canto de orelha.
é o cheiro que eu procuro quando vou dormir.

o cinza do teu casaco me dá uma angústia
de que a gente anda muito distante
e eu tenho medo
tenho medo de que você possa ter mudado demais
nesse tempo todo
uns 75%
que teus lábios já não sejam os mesmos
e já não exista aquela marca roxa no teu olho direito
que alguma pessoa já tenha te ganho
e eu tenha te perdido.

mas eu me agarro no cinza do teu casaco
porque eu gosto da ferida
eu gosto do desgasto
eu gosto de você.

você não tem barba
mas eu te amo mesmo assim.