Para sentir o mar, leia em silêncio.
Elas eram tudo entre saliva e suor. Essa mistura que caía em todo pescoço e descia até o seio, que molhava toda a barriga e só parava lá embaixo. Mas tinha roupa e uns tecidos grossos e uns jeans apertados e um amor de iniciante e as duas que mexiam, mexiam, mexiam. Uma de cabelo no ombro e a outra de ombro caído. É amor, uma dizia. E grave, a outra respondeu. Elas vinham vindo atrás do bloco, elas mesmas que faziam o próprio carnaval. Os corpos morenos das duas -e um "delícia" que se ouvia de quem passava- grudavam feito super bonder em pelo de braço. Se soltasse, era pior; e se puxasse, não saía. Da lata, a cerveja descia pra garganta e as deixavam completamente tontas; agarradas, bêbadas, pra não cair. E caíam. Caíam fundo e esfregavam o rosto uma na outra e cheiravam o perfume vencido na nuca e lambiam da boca à orelha. Somos fortes, uma dizia. E gostosas, a outra respondeu. Bêbadas-loucas-drogadas, mas gostosas. A música era um negócio de frevo que caía na noite e ninguém parava de dançar. E elas dançavam feito bandeira levantada em redemoinho. Foram levando assim até a praia, um litoral charmoso, com luz pouca e pouca gente. Gente. Esse troço louco, mas que dói no coração.
Correram; sem força física, só a coragem de mergulhar na areia e deitar na água e subir na coxa de uma pra que esta pulasse e se agarrassem pelo pescoço. Quase caíam, quase sangravam, quase morriam, quase, quase. Caíram deitadas na areia, mãos coladas e vidas coladas. E a música ao fundo, voz e violão "...meu coração bate e você não ouve, ele bate e você se esconde, ele bate e você não responde. meu coração desiste e você abre a porta. tem borda tua que eu ainda nem encarei." Amanheceu e nem tinha mais corpo que aguentasse e sexo que fizessem e cerveja que entrasse. E foi assim que pela primeira vez, uma sorriu no meio do choro encharcado da outra. Amo você, uma dizia. Pra caralho, a outra respondeu.


Nenhum comentário:
Postar um comentário