05 julho, 2016

asco

não me diga o que fiz, o que faço, o que tenho que fazer.
dizer que ama é plausível e dizer que vai amar é só um trote
que você já me passou.
se não saber o que sou é não saber o que vejo
não me diga que o que não vejo é sagrado.
meu corpo é profano, largo, sentido
e você já me conhece.
não diga que vacilei a voz, que gaguejei teu nome
tua arte é saber cuspir além de quem passa por baixo do prédio
que eu sempre passei.
não me mostre essa cara por esse feixe de luz
de quem não vive nada e sempre envelhece
de quem consome carne nova e mal passada.
seria muito mais digno perturbar e confrontar um asco
e adoecer os sete chakras
que me agachar pra te devolver esse aperto de mão.
não trate meu sexo como artificial, translúcido, seco.
eu só economizo as minhas bordas
se for você que eu encontrar em cada esquina.
não é saudável me transpor nesse caminho
onde te vejo alargar as calças e roubar virgindades
onde te vejo pisando e pisando e pisando
na própria roupa roubada de alma corrompida.
é a última vez que peço pra largar os meus bolsos
e se valer apenas de quase ter tocado a minha pele
antes que eu me escandalize com teu cheiro de vetor de doença
e perca o sono, esperando a próxima vez.

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