18 dezembro, 2016

pra tocar beijando

[a voz da minha consciência]

a gordura nos meus dedos
não melam mais o quadril cigano de Luciana
não que eu tenha deixado de comer fritura
ou Luciana tenha me proibido de tocar em seu quadril
mas é que toda vez que a vejo em minha frente
perco total a capacidade de me sustentar
há um tempo em que um olho precisa para avisar o outro olho
que vem vindo coisa bonita
e há um tempo para que eles se acostumem juntos
com um brilho que não seja o do sol
levo exatamente sete minutos e meio para agachar-me
diante de Luciana
seu fino contorno de orelha de bruxa antifascista
sua tatuagem agregadora pró veganismo
são dificilmente percebidos sem luz negra
fumo um marlboro para que a fumaça lhe agrade
e ela se desloque até minha boca
nunca que esse gloss vermelho vinho
tocaria esse mate preto enxofre de Luciana
digo que gosto de samambaias pela forma caída das folhas
é como a arquitetura do corpo que não enaltece o verde
mas não como a sua arquitetura que se ergue
e me mostra a toca de raposa bêbada
com a mesma bravura rouca de um apache
e quando se forma aquele rosto em cada sombra
projetada na parede
e quando arranca da minha boca essa coisa barata
chamada saliva penso que
nunca que minha cabeça se desprenderia do meu corpo
só pra esquecer Luciana

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