16 janeiro, 2017

outras meninas

teu incêndio é grave, às vezes o vento se queima;
o que senti na tua pele que não senti nas outras meninas
sendo que a mesma cor de madeira maciça
o mesmo traço negro no canto do olho
e a quase igual fresta de sol atravessando a testa?
os búzios me indicam: não há cheiro de erva
no teu buço que eu não tenha sentido nas outras meninas
mas em você é tudo mais verde e real
em você é tudo mais quieto, feito lago
em você o fluxo do rio é outro.
e, no silêncio raso, tua voz emana quase que tão rouca
quanto as das outras meninas
é frágil o agudo que atravessa o outro lado da cama
e penetra fundo no ouvido
mas nenhuma voz tão calma, macia e vasta
me conduziria na sorte a alguma boca.
e por ter sido ela quem logo se debruçou
sobre as minhas células mortas
foi que a deixei dar-me a vida
só ela, em plenitude
e não outras meninas.

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