05 janeiro, 2017

vejo melhor nossas fissuras

de repente, por vezes um pouco menos que de repente, a dor se arreganha na minha cama. quero que a dor se satisfaça sozinha, não ouso tocá-la. eu ando amando cada pedacinho de você, do outro, que é quase o mesmo que enxergar meu próprio corpo, só que de longe. de repente, você ofusca a dor, ignora. não mais coxas vazias entre os meus lençóis, não mais o perigo alinhado. difícil permanecer quieta diante do pensamento sobre a eternidade, se enquanto teu organismo pulsa, o meu se enfraquece. é com as fissuras nos dedos, os ressecamentos nos lábios, a tontura e a náusea, que eu me ergo. perceber você adentrando cada vez mais escuro no meu peito, dói. física e gradualmente, teus pelos mais finos pesam como lâminas. porque você me corta fundo e eu deixo. mas te amo sem contato, sem te ver de lentes 50mm, com as quais eu aproximo teu corpo numa vista analógica, e te faço nos ferir, nesse amor escandaloso.

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