23 fevereiro, 2017

sândalo

esse fio de cabelo é só o princípio de tudo que morre
em você e não se reitera
não cresce um pelo sequer na púbis que mata a tua fome
e come gente como se comesse uma tira de brócolis
puxando cada pedúnculo com o dedo mindinho
e encostando devagar na língua com medo de morrer engasgado
cuspindo no chão.
a ânsia da dor na garganta é que abre a tua boca murcha
mostra a gengiva esfacelada de vermelho sangue
e o dente que sobrou e os tantos outros que ficaram na parede
-a mesma que você encosta as costas depois do trabalho (?)
a ânsia da dor é o que mais machuca -e você não sabe
porque abre a boca a cada segundo e interrompe as próprias palavras
pra gritar pro silêncio
a merda que faltou ser gritada pelo escuro do edi
você olha pro teto de madeira de sândalo
e tenta chorar pela meritocracia que te tirou o pão com ovo
e te deu as prostitutas
e te deixa babando olhando pro espelho (saudade de quem?)
mas suas olheiras são tão arraigadas
que as lágrimas sabem que sair pode ser pior
ainda tua cínica existência invisível do outro lado do box
mas que todo mundo vê
em silêncio.

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