esqueça meus quadris curvilíneos
esqueça meus joelhos de pedra maciça
faça as pontas dos meus dedos aparecerem deformados na tua lembrança
sem cor sem cheiro sem líquido viscoso
aprenderei a não fazer mais diferença
quero que arranque da orelha qualquer resquício de língua molhada
passa a mão nas coxas e sente se algum cheiro permaneceu intacto
toca a tua boca e sente o próprio beijo
esqueça o contato dos meus dentes com tua pele ressecada
esquece que servi de hidratante
quero que esqueça o sexo
mas lembra talvez das palavras em francês
do meu eu te amo no repeat sem pausa em volume baixo
de como teu rímel escuro me fez repensar a existência de um amor involuntário
com muita loucura e jamais breve
e alheia a isso, eu
com a saudade de antes e agora e sempre.
esqueça, portanto, meus poemas sobre as peles que arrancei da tua boca
e quando tudo parecer irreal aos teus olhos
e eu não mais aparecer diante das paredes do teu crânio,
ama-me de novo.
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