19 junho, 2017

taquicardia

eu olharia pra você
e sofreria com a falência do corpo compacto
talvez minha náusea aumentaria e meu vômito não caberia no seu colo
como um momento evoluído do cuspe ou talvez estratosférica
eu não saberia como uivar em plena lua cheia
porque era inteiramente pra você minha fase de cio
comprometida com minha febre epilética
eu não buscaria exílio no teu peito pra sofrer com conforto
e por isso danço de cabeça caída
por isso me expulso do meu próprio reino
por isso esses dedos vinho e esses olhos enxofre
talvez você entenda essa minha pressa de revolução
ao olhar pra você eu teria que atrapalhar minha reza
falar em voz alta o santo anjo do senhor
com indícios sutis de um pedido de socorro
e no entanto duvidar da luz dona do mundo
numa espécie de encanto
acreditar pra sempre em tudo que for meu
meus gemidos
o colo do meu útero
a esfinge tatuada no colo do meu útero
minhas estrias
minha veia estourada em tom esverdeado
meu sinal na comissura da boca
o lóbulo da minha orelha
meus seios
meus ataques de prevenção à ansiedade
minha nudez quase pervertida
meu colar de pedra das estrelas
minha sensibilidade filha da puta
meu ninho
meu sono
meu ciclo menstrual
e portanto agradecer àqueles seus cílios circenses
do contato quase frenético das nossas gengivas
daqueles que dá formigamento
e acaba no instante em que o doce é tirado do lugar
a fome, eu diria, está afinal em busca de outra coisa
eu estou afinal em busca de outra coisa.

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