07 junho, 2014

Cartas para alguém que só habita os meus sonhos

França, 28 de Setembro de 2001

Querido César,

Cheguei em casa às dez da noite carregando em três sacolas o almoço que duraria duas semanas. O apartamento nunca muda, pensei, são sempre as mesmas paredes, as mesmas cortinas, aparentando a mesma melancolia de sempre. Mas eu gosto disto, acredite. E por falar em mudança, França não é a mesma sem você, nunca é. Eu olho em volta, procurando alguém com o mesmo rosto, a mesma fisionomia, um sorriso que seja ao menos parecido com o seu. Mas as pessoas não sorriem por aqui, parecem que nunca estão felizes. Fiz um café mais amargo que o de costume; guardei o que havia comprado dentro dos armários e fui para a cama. Inclusive, este é o melhor lugar para uma solitária passar o domingo à noite. E mesmo se eu não estivesse sozinha, estaria no mesmo lugar. Eu odeio domingos, você sabe. Aliás, antes que eu me esqueça, desculpa por ter passado tanto tempo sem escrever pra você. Mas é por um motivo nobre, a biblioteca não para de crescer, e você sabe o quanto eu sonhei com isso, organizar livros não é tão fácil quando imaginam. Liguei o som e o aquecedor. O inverno está sendo mais pesado desta vez, não sei se só eu estou sentindo isto, mas o frio não está me parecendo tão acolhedor. Veja só, está tocando Chopin na rádio; quantas coisas essas músicas me lembram... era uma época maravilhosa, eu confesso. Confesso também que escrever me dá sono às vezes. Por isso, tenha uma boa noite.

Com todos os sentimentos do mundo,
Adèle.

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