16 setembro, 2014
Eu mesma
Eu,
que tanto escrevo para provar que existo,
que vivo à margem de quem me julga por fora,
que deixo sempre aberta a porta para quem quiser entrar.
Eu,
que nunca sei a hora certa para sorrir,
que pulo, que fujo, que deixo cair
cada lágrima que embebeda, que azeda
e insiste em brotar.
Eu,
que tenho acesso livre às estradas vazias,
que derramo o sangue nos postes escuros da cidade,
que deixo livre a passagem para quem quiser me amar.
Eu,
que já não tenho pés para correr do mundo,
que danço, que canso, que não consigo largar o fumo
e já não sei com qual rima terminar.
Eu, eu mesma.
Que não faço nada da vida a não ser viver.
E, talvez, nem isso.
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