09 maio, 2015

O que sobrou de dentro


Choro.
Choro do lado de dentro onde a garoa
fina não encosta.
Onde há luz, mas não se enxerga.
Onde há vida, mas não se vive.
Choro por entre os lençóis úmidos
que não me aceitam nem me querem por perto.
Onde se captura lágrima recente.
Onde se manifesta o vazio sem cor.
Choro onde o mar não alcança,
mas sei que nele há rio corrente.
Onde tudo que se quer, se perde.
Onde tudo que me toca, estraga.
Choro do lado pequeno do universo
que é tão íntimo quanto a escuridão
que aqui permeia.
Onde é preciso ser imenso, mas de tão
pequeno, quase não se vê.
Onde é preciso ter força, mas de tão
covarde, quase se tem pena.
Onde é preciso ser alegre, mas de tão
triste, a morte não quer.
Choro onde a cadeira que sento me despreza,
embora confortável e me recuso a levantar.
Onde o teto não me olha, embora calado
e me nego a parar de olhar.
Choro, e sei que choro,
sempre que algo me afeta,
seja de dentro ou de fora,
nesse ínfimo espaço que carrego.

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