18 agosto, 2015

Viu o mar diante de si e não se molhou

Quero que pense num caminho:
além de todos os caminhos que já foram trilhados,
onde já não há passos que se mostrem
nem sonhos que se escondam.
Há um caminho,
quero que perceba.
Quero que saiba
que meus passos na areia branca
de um quadro qualquer,
portanto hipotético,
se fazem presente neste instante.
Não é real,
só preciso que pense.

Vejo-te como pedra.

Dura e silenciosa,
ainda que se escandalize.
Forte e cinzenta,
ainda que exista fragilidade.
Grande e poderosa,
ainda que não possa sair do lugar.

Vejo-te incapaz de prosseguir
o próprio caminho
sem se enganchar no sapato de alguém.

Não que seja por maldade,
apenas não sabe lidar.
E nem sabe se fazer ausente.
Uma rocha bruta
que faz parte de todos os cartões postais.
Que faz parte de todas as fotos que tiro.
Que faz parte de mim,
ainda que eu me sinta inteiramente minha.

Você, no seu papel de pedra,
não soube a hora de pôr a cara no sol
e se tornar areia.
Não se permitiu tornar-se.
Não se permitiu criar asas
e largar o chão molhado.

No entanto, ainda que eu não me sinta
como uma rocha a ser lapidada,
peço-te que me deixe encontrar asas
e pô-las em mim.
Peço-te que não tampe o sol
e me deixe vê-lo como se eu só tivesse
olhos para o que está acima de mim.

Além, claro,
do caminho a minha frente.
No entanto, sem que estejas parada
me esperando tropeçar em você.

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