09 dezembro, 2015

Ela faz amor por telepatia



Bem compacta, pra não utilizar apelidos como pintora de rodapé, que poderia ser colocada num pote, ou melhor, num pequeno depósito de uma padaria porque ficaria mais perto das coxinhas. e fala baixo, pouco e muito discreta. isso quando não aparenta querer gritar o peso da garganta. tem o pé pequeno, o nariz pequeno e o olho pequeno e é tudo pequeno nela, menos o coração. ah, e o lábio inferior também que é uma maravilha. chora. eu não sei como, mas chora. deve ser bem baixinho também, muitos soluços. está sempre nos dois extremos, muito ou pouco. nada transparente, é preciso bater muito pra ela abrir. e tem um estilo sensato, de quem pensa muito porque deve ter medo ou porque só tem preguiça de tentar. deve estar ficando surda, ouve muita coisa e conhece muita coisa e abraça com as duas mãos no pescoço ou uma no pescoço e a outra na cintura, mas nunca as duas na cintura. e é bem forte, ainda que bem magrinha. e é bem doce, uma delícia de ser humano. bonita. as papilas da língua grudando no céu da boca e o sopro frio, um sussurro, uma verdade amiúde: bo-ni-ta. tem um toque firme, aperta com todos os dedos e arranha com todos os dentes e beija com o corpo grudado. ama no segundo mês, mas nada diz e nada mostra antes de sentir os pés seguros na canoa de alguém. tem os lábios grossos, tão vermelhos que os vasos sanguíneos parecem transbordar e, ainda que todo ressacado, é gelado e tem gosto de menta. ou de canela. ela é toda adocicada, mais pelo que sente do que pelo que come. transtornada. segura em qualquer barra ou em qualquer braço ou em qualquer vento, com medo de cair e gostar de ficar no chão. não tem um repartido de cabelo igual, nunca. às vezes ela põe pra esquerda, às vezes ela põe pra trás e nunca sabe o que fazer com o resto dos fios soltos quando ela consegue amarrar. afinal, nunca sabe o que fazer consigo mesma. dorme bem, mas deve dormir melhor na cama dos outros. e deve sorrir muito quando abraça forte e deve chorar mais quando está sozinha. tem um nu frontal delicioso. fica. analisa sempre quando deve chegar e quando deve ir embora, mas sempre diz que vai partir na hora errada. fica mais um pouco. e deita sempre com um braço agarrando a cintura, pra sentir melhor as costelas e deixar todo o peso no peito pra sentir melhor o coração. ela tem um jeito de quem ama fácil, mas não se entrega pra qualquer um. e um jeito de quem busca a claridade, mas está sempre brilhando no escuro. e um estilo de quem sofre horrores, mas tem na ponta dos lábios esticados uma felicidade que me ganha fácil. ela me tem. e eu já me sinto diabética do quanto já me acostumei com sua doçura.

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