
Bem compacta, pra não utilizar apelidos como pintora de rodapé, que poderia ser colocada num pote, ou melhor, num pequeno depósito de uma padaria porque ficaria mais perto das coxinhas. e fala baixo, pouco e muito discreta. isso quando não aparenta querer gritar o peso da garganta. tem o pé pequeno, o nariz pequeno e o olho pequeno e é tudo pequeno nela, menos o coração. ah, e o lábio inferior também que é uma maravilha. chora. eu não sei como, mas chora. deve ser bem baixinho também, muitos soluços. está sempre nos dois extremos, muito ou pouco. nada transparente, é preciso bater muito pra ela abrir. e tem um estilo sensato, de quem pensa muito porque deve ter medo ou porque só tem preguiça de tentar. deve estar ficando surda, ouve muita coisa e conhece muita coisa e abraça com as duas mãos no pescoço ou uma no pescoço e a outra na cintura, mas nunca as duas na cintura. e é bem forte, ainda que bem magrinha. e é bem doce, uma delícia de ser humano. bonita. as papilas da língua grudando no céu da boca e o sopro frio, um sussurro, uma verdade amiúde: bo-ni-ta. tem um toque firme, aperta com todos os dedos e arranha com todos os dentes e beija com o corpo grudado. ama no segundo mês, mas nada diz e nada mostra antes de sentir os pés seguros na canoa de alguém. tem os lábios grossos, tão vermelhos que os vasos sanguíneos parecem transbordar e, ainda que todo ressacado, é gelado e tem gosto de menta. ou de canela. ela é toda adocicada, mais pelo que sente do que pelo que come. transtornada. segura em qualquer barra ou em qualquer braço ou em qualquer vento, com medo de cair e gostar de ficar no chão. não tem um repartido de cabelo igual, nunca. às vezes ela põe pra esquerda, às vezes ela põe pra trás e nunca sabe o que fazer com o resto dos fios soltos quando ela consegue amarrar. afinal, nunca sabe o que fazer consigo mesma. dorme bem, mas deve dormir melhor na cama dos outros. e deve sorrir muito quando abraça forte e deve chorar mais quando está sozinha. tem um nu frontal delicioso. fica. analisa sempre quando deve chegar e quando deve ir embora, mas sempre diz que vai partir na hora errada. fica mais um pouco. e deita sempre com um braço agarrando a cintura, pra sentir melhor as costelas e deixar todo o peso no peito pra sentir melhor o coração. ela tem um jeito de quem ama fácil, mas não se entrega pra qualquer um. e um jeito de quem busca a claridade, mas está sempre brilhando no escuro. e um estilo de quem sofre horrores, mas tem na ponta dos lábios esticados uma felicidade que me ganha fácil. ela me tem. e eu já me sinto diabética do quanto já me acostumei com sua doçura.
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