17 dezembro, 2015

saudade

Sonhei com você hoje. na análise, eu tive que parar de olhar para o quadro na parede porque ele me lembrava seus dedos. ainda que o desenho fosse várias folhas cainho no chão, aquele marrom -quase preto- me lembrou suas unhas. aquelas de quando você convivia bem com a dor. a assinatura, no canto esquerdo do quadro, me remeteu a uma carta que você ficou de me entregar e que nem ao menos me lembra pra eu voltar a cobrar o que me pertence. você nem me lembra que eu poderia existir numa folha de papel. ao lado do divã existe uma janela que nunca está aberta -talvez por medo de que os pacientes resolvam pular do sexto andar- e que é coberta por uma cortina cinza que me faz pensar na falta que o seu casaco me faz. eu só ando dormindo de bruços porque já não encontro seu perfume antigo pra dormir de conchinha. eu ando muito desolada sem você. eu ando, ando e acelero e começo a correr pelo quintal e dou voltas pela cozinha pra esbarrar em alguma planta e bater em alguma quina pra, quem sabe, sentir uma dor maior que a que você me causa. pra me preocupar mais com o sangramento no joelho que no que diabos você está fazendo em casa. pois sim, eu sinto saudade.

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