28 dezembro, 2015

você me prometeu um gato

deve fazer alguns meses que a gente não se vê
eu fechei minhas janelas só pra você ter medo de fugir
e garantir que só por mais um dia
eu teria seu cheiro no meu lençol
mas você nem chegou a dormir aqui.

todos os sábados eu passo naquele mesmo lugar
que eu costumava chamar de nosso
e que se escondia atrás de umas paredes meio sujas
mas que eram nossas paredes
e você nunca mais apareceu pra pedir reembolso.

eu olho pra rua e nunca te vejo
paradas de ônibus, lojas indianas, padarias de esquina
rodinhas de fumo, restaurantes vegetarianos, bares de centro
casas lotéricas, antigos edifícios...
você sumiu do meu GPS
nem sequer voltou pra assumir meus riscos.

eu ando com umas manchas vermelhas no corpo
que eu olho no espelho e desenho dentes no contorno
pra fingir que você ainda curte morder meu nariz.

eu ainda espero suas flores amarelas pelo correio
ainda compro anéis de côco todo fim do mês
esperando que você esteja comprando os seus
só que mais marrons.

não sinto saudade.
só uma dorzinha no peito que chamo de fome.
mas nem isso é por você.

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