29 julho, 2016

Vômito

Crente que esse choro me alagaria,
peguei do chão um papel granulado e vomitei:
mão de homem vagando não vale esse cisco
que passou pelo meu corpo.
Não vale esse suor que queimou com o sol quente.
Esse fogo descendo pelas minhas pernas
não é vontade não, é luta.
Esse mamilo eriçado não é arrepio não, certo,
é dor.
Essa minha unha caída vale mais que essa
mão calejada de punheteiro narcisista.
E o choro dói, viu.
Mas é porque eu vi estilhaçar a janela do meu quarto
com pedrinha de granito
com um papelzinho cheio de ódio
e o vermelho não era de tinta guache.
É porque eu ouvi o grito de doer a garganta
por umas mãozinhas dadas no ponto de ônibus,
é porque eu vi o choro de raiva da minha mãe
e o vômito de cerveja do meu pai no banheiro.
E o vômito dói, viu.
Esse roxo no meio das minhas coxas
não é chupão não, ó, é cabo de vassoura.
É caquinho de vidro que fincou,
é piúba de cigarro que caiu de outra boca,
é castigo,
eu ouvi alguém dizer.
Eu quero crer que a bicicleta desse cara
que me aborda não tem garupa
e nem o próprio guidom ele sabe controlar.
Eu quero crer que viado nenhum
receba um banho de cinza.
Eu quero crer que essa tua mentira
não me machuque de novo e de novo e de novo
como se eu fosse a parede dessa sala
que você soca com o próprio punho.
E esse soco dói, viu.

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