fui poeta, arrisco
eu me contento hoje com os cárceres longe de mim
porque me fiz poeta com o excesso de fuligem
dos grandes pesares, quedas e dores.
de quando me pediam pra parar de andar descalça
e eu desobedecia porque era meu cerne a ausência de cerâmica
mas nem vejo mais sentido procurar chão onde não há.
nem que toquem clandestinamente esse meu peito,
eu não deixo que o escravizem
porque esse peito haverá de ser primeiramente meu.
meu conceito se alastrou, eu tô pegando o jeito
mas ainda falta tanto, tanto.
meu tempo anda fugindo entre meus dedos
onde neles as unhas crescem fortes pra compensar o que eu não fui
e o que eu talvez ainda não seja,
mas crescem em mim também várias azulzinhas que aguentam o sol quente,
mas não suportam ventos fortes.
o amor que eu alastro me basta
e o amor que me alastram me basta
não há pra onde olhar agora que não seja esses meus cabelos que embaraçam
e esses meus olhos que doem com a luz acesa
essas minhas feridas que eu tô sarando com dificuldade,
mas que as cascas eu já consigo enxergar.
essa é a minha cascata
que eu fico embaixo tomando banho e depois saio pra sentir a pele ardendo
pra sentir que eu aguento
será que consigo?
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