18 novembro, 2016

a vida que me é suspeita

quando transarmos numa cama,
tudo parecerá tão calmo.
nossas pernas pararão de doer
e darão lugar ao transe;
mas eu peço que não sofra [e que se lembre
de como tuas unhas escapam fáceis do lençol
como no dia em que me apresentaste aquela música
da bruni e as lágrimas escaparam fáceis
[do meu rosto.
quando transarmos numa cama,
as amoras aparecerão em árvores erradas
e a gente terá tempo para percorrer o chão de pedra
ao som de silva cantando marisa
e você dirá o quanto pesa a solidão dentro de casa.
o teu cabelo cheira a incenso de cravo
não dava pra sentir com tanto cheiro de cerâmica suja
e os dedos, os pulsos, as coxas
[eu posso, finalmente, sentir você inteira].
quando transarmos numa cama,
teus lábios parecerão mais vermelhos
e o sangue pulsará com mais força aqui dentro
pelo ar que eu perderei te olhando.
você se afogará na minha boca
como se perdesse o controle da língua
enquanto lê um verso do bukowski e sente que
quando transarmos numa cama,
faremos barulho diante do silêncio dos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário