16 outubro, 2017

letárgica

soube que os homens se esgotaram
então o sexo é isso, meu bem, só isso?
soube da tristeza embaixo dos óculos
eu quase sinto desprezo
mas paro. olho.
e sinto desprezo por mim também
eu sinto ânsias. crateras. insurreições.
e nunca tenho na língua o que quero

depois a lobotomia, o estresse
meu corpo é uma órbita desconhecida
em meio as ruínas bonitas do meio-fio
a menina hermética me diz do ruído
choro porque a liberdade dói e sartre fala
do peso que é
existir

e ser mulher, ser ogra, artifício
ser gente e incomodar
como as ondas no céu da boca de um cachorro

ser sozinha, com o olhar estancado
e ainda assim te querer abaixo da unha
abaixo da sandália de coro
olhar a merda toda, a vida fodida, esgotada
te querer fraca
e longe de mim

e eu cansada, diluída no próprio poço que formei
me acaricio depois por medo do que falo
me vejo faltosa. límbica. letárgica.
fico à deriva, em desuso.

Um comentário:

  1. Adoro viajar no seu blog, é sempre um bom momento estar aqui. Tudo me soa muito sentido, muito verdade e sem hipocrisias

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