15 março, 2018

o dedo que me penetra

o dedo que me penetra não tem nome
é cálido som puro, estatueta de mármore e pedra.

escorrego,
porque lapidou-se o que em K. era nítida rocha bruta
olho para o meu estômago com teu pedaço de unha dentro
como as espinhas de peixe que um dia engoli,
tendo sempre o vômito verde-mostarda.
não acredito que isso que você quer achar
queira ser visto numa colonoscopia:
é gastura simples. pedaços de amina e merda.

e fogo-fátuo, rastros de tesão e fuga
te amo como as tarântulas e as begônias e os rochedos ao redor do rio
porque sei que me esquivo da tua pele de corte de peixeira
e te ver sentir enjoo do peso exaustivo da minha sombra
interfere na minha ganância de ser palácio e estábulo ao mesmo tempo.

não ache que é por você que choro
enquanto meu cabelo cheira a gasolina e óleo dísel.

há a loucura que tento esconder de K.
se a tenho como tenho toda gente que comi, ferina
deixando meu canino pregado em cada coxa preta
o dedo que me penetra não tem nome
é viga suspensa. ferida de queda de cavalo.

e fazer do cigarro a imagem de pessoa distraída
poder encostar no limbo, saber que o limbo cresce
sob teus olhos, a cama. a prece. o desejo. somam-se
inúteis no 1/11 avos do teu espaço-tempo. calejada,
eu te somo a mim, teu puro sangue gasto de rainha.

o dedo que me penetra tem nome
mas eu não sei qual é.

Um comentário:

  1. sempre uma surpresa e uma paulada na vozinha que lê pra gente dentro da cabeça

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