27 abril, 2018

tua punheta minha placenta

para vitor

tua punheta minha placenta
você é um menino que aguarda a redenção dos vivos
um pedaço de tronco de árvore que corta e quebra
corta-se e quebra-se, meu bichinho de cabeça raspada

eu sei que é palpável o gosto da tua boca
enquanto belisco meus próprios mamilos
e durmo. ergo-me. invado-me oca, inicio
tenho sede do teu seco suor.
então sentir como gotejo a perfuração do teu baço
na minha barriga. depois cócega.
depois dor. depois alívio.
instauro minha hélice no teu silêncio quieto
sim, eu tiraria da tua pele todo o sangue que eu preciso.

eu sei que você espera.
isso é tudo.
e eu sou nada.

eu sou um acidente inesgotavelmente cheio
de cansadas e breves instaurações
barbada e cínica, meus pelos roçam e você sabe porquê
eu tenho a vagina contraída e o cheiro dela no buço
não lamento, não me estendo, não procuro
quero que você exponha, na raiz da desesperança, seu ruído noturno
eu tenho fome também da tua frase
a brancura da boqueira que eu evito
porque vieram homens de todos os lugares, poços e vagões
e eu não soube recrutar você

eu não soube sequer me alagar e me sentir ingovernável
como as estruturas gerais do rio de janeiro
subir no meu piso pra poder cair e chorar de fragilidade e inocência e na falta de coturno
é teu salto que me levanta
ser como aquela gata
que se esticou todinha quando fizemos carinho na barriguinha dela
como todos os gatos que roçaram nas nossas pernas pedindo abrigo
e nós demos e nós damos sempre
e nós nos beijamos enquanto a areia se perde no meu púbis
e nós nos beijamos enquanto a cidade cospe fogos de artifício
e nós nos beijamos enquanto eu deixo de ser eu e passo a ser você

e tudo se torna muito tranquilo na minha cabeça.

tua punheta minha placenta
e eu que nem sequer estico os braços pros demônios que carrego
te faço meu deus pra suprir a necessidade da dúvida
te faço calar a boca enfiando gotas de saliva
e a saliva roxa e o lábio pink e o canto do olho vermelho
meu passado com você é o presente que eu não condeno
você me fala que o tempo urge e as coisas passam
em seus devidos manuais de instrução, essas coisas são só miragem
mas eu sinto

saudade de sentir roçar no punho a panturrilha mais gostosa do teu país redinha
sentir que do outro lado daquela ponte há centenas de pessoas
e milhões vestindo branco e milhares com guirlandas de adereço no pescoço
e que nenhum deles somos nós
porque estaríamos gozando no banco de trás a caminho de parnamirim
porque estaríamos revirando os olhos pros branquinhos cegos de terno
porque estaríamos dormindo no suor úmido do asfalto
eu queria ouvir devagar tuas vozes na parede
na impossibilidade de entendê-las
eu queria sacudir teu corpo murcho até esticá-lo inteiro na capacidade de te manter vivo
como haste grossa que não quebra
como a tua panturrilha grossa que não afinaria nunca
nem com a briga fúnebre desses dias
eu queria ter-te homem nos meus braços, sacudi-lo como se você fosse essa mão que eu tiro do bolso
pra não mofar dentro da calça
eu tenho saudade de quando as coisas eram pequenas
e eu me sentia importante por ter o mesmo tamanho que elas
como esse figo maduro e esse pêssego que eu chupo entendendo as metáforas
queria ser teu pino e teu primeiro sexo
e depois me tornar o cu que fecha
por medo de perder mais um.
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