12 junho, 2018

C.

automaticamente pensar em você
e nascer de um plástico como se nasce de um saco escrotal

porque C. não sabe
que por exemplo as sobrancelhas guardam o suor todo da testa
e por isso eu as descabelo inteiras
na tentativa de obstrução, abstração, vínculo
arreganho, plena
desconheço a tua força
e por isso eu interajo, fluída, no que resta do teu sono.
não tenho culpa de ser triste.

meu processo ter sido homem
porque eu não tenho paz e eu não tenho físico e eu não tenho palavra.

não importa se no dia triste como esse domingo de maio
você me diga que eu não fui nada além de um mosqueiro
e que eu sou frágil demais pra tentar te proteger de alguma coisa
eu apenas acenaria com a cabeça
já não importa se eu pareço um homem descalço de dedos curtos
acenando pra uma mulher como se ela fosse um conhecido distante na rua
e eu repousasse sobre as suas pernas na indignação de parecer que sofro
eu não sinto mais medo da morte
das paixões que carrego na bolsa
verdinha que eu acabei de comprar.

repousei num momento de espanto e alívio
automaticamente pensei em você
mas são muitos tantos os amores molhados que a gente enxuga.
e hoje eu sento. e choro. e faço do teu nome escândalo. cúpula.
não tive consciência alguma do poder que teve
a mulher nociva que você também foi
no parapeito imenso e insoso e intenso
desse sopro.

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