24 março, 2017

sou eu antes e depois de você

ainda sinto o gosto daquele beijo na minha boca
como se eu te chamasse pra uma dança
que não usa os braços e você sorrisse por não saber
como se fosse fácil agachar-se e arrancar do solo
a raiz podre de uma planta
e sorrir também pra não ter que chorar nunca pela perda
sorrir quando você fica em silêncio diante do barulho do mundo
quando a falta de paredes denunciam nosso abraço
e é preciso soltá-lo assim de repente
sinto frio nos dedos e sei que não há corpo sequer em volta
não há sequer cheiro nem saliva grudada
e ainda que a mão trema e as pernas doam de saudade
ainda que eu continue cortando as unhas e usando preto
ainda que eu desenhe cachos e me imagine em círculos
você me aparece nuns sonhos borrados
e já parece velho

tento ler as bordas da tua boca e entender
quais os teus encantos que me faz coçar a língua
e esquecer das dúvidas
da iniciativa privada
e esquecer das dores e da tentiva de ingressar continuando viva
enquanto você me fala do possível esgotamento do amor
feito água que evapora e nos deixa inerte
e eu nunca sei se consigo acreditar
pelas marcas de anel no meu dedo que marcou de branco
posso te dizer que sou eu antes e depois de você
e penso em te beber quase sempre

e olhar hoje pras folhas verdes
e pensar em esperança e dizer
meu deus, que agonia que dá no corpo.

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