não é exatamente a solidão é mais que a solidão
é o meu corpo que deixo semi-destampado
como bueiro em avenida
suas pernas reacionárias seu esperma sua saliva
eu corro contra a repressão
que é deixar a nuca coberta
e é por isso que eu corto o meu cabelo
eu me basto fluída
hemorrágica
com meus dedos de esmalte
e hipocondríaca eu justifico a minha mágoa
com a falta de amor
beijando a mulher que fui
há ventre em tudo que toco
há ovário em tudo que cheiro
eu deixo que chore esse corpo
e molhe os cílios
porque recomeço infinita
e só.
As pessoas adoram repetir que falta Deus na sociedade. Mentira: falta amor. A solidão é a amizade em ruína, o amor ao próximo em decadência. A repressão às mulheres e seus cortes de cabelo e roupas supostamente obscenas? Falta de amor ao próximo. Tô soando muito piegas? Tomara que não. A fome e a miséria são falta de amor. E não há remédio para curar esse mal, mesmo quando estamos todos viciados no que quer que seja. No final, precisamos amar a própria alma e lutar para viver uma vida digna e confortavelmente solitária.
ResponderExcluirSua poesia me acerta sempre.