12 dezembro, 2017

do baixo dos prédios

olhando aqui por baixo teu olhar xamânico
vezenquando permanece vivo o negro petróleo nas narinas
e eu penso que rapé é uma miragem
uma visão de necrotério
e eu penso que sou ciente. sou solúvel.
deixando meus pés descalços nas camadas finas de sal grosso
estaríamos você e eu monocromáticos
traindo nossa vila, nossa bandeira
e aqui de cima eu penso na depressão de quem olha pra baixo
vou saber das marcas únicas de sapato
eficiente olhar confuso em desvendar verniz.
descobri que tudo racha
talvez se salve os lábios de gloss brilhoso
a cidade não protege quem não olha pra frente
e fica preso em seu pequeno sabor de hollyood
o peso que sinto sobre você é porque verifico pulmões
e eu não quero que morra
a minha menina.

pensando em escalar paredes eu desenvolvi esse apreço
vivo contínua. perplexa. saturada.
e esse prédio tirando minha vista eu não me conformo
por isso eu escalo paredes
por isso eu atrapalho o sinal da tv de vocês.
me prendi meticulosa nos teus calcanhares
porque aqui de baixo você parecia um bicho e teu cabelo se formou laranja
mas você não sabe escalar prédios
e eu caí.
aqui deitada nessa calçada eu penso que tenho um corpo selvagem
igual aos meninos de cabelo solto que se desmancham
em tantos e tantos pedaços de naturalismo
e que tudo em mim não me agrada
acho que sou um homem
, desculpa.

mas eu não posso saciar a fragilidade dos outros
e me expressar como um indivíduo desconstruído
eu sentiria saudade de mim
do eu confuso.

2 comentários:

  1. Natália, adorei muito esse poema. Como as pessoas tem essa força incrível pra continuar atravessando as ruas e não caindo nos bueiros? Amo essa vida que você descreve, viscosa e escorrendo das paredes dos prédios...
    Ou vc é de SP ou de qualquer cidade do mundo. São todas uma.

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