depois de alguns anos morando sozinha
a crosta das coisas estáveis desmoronam em rápidos segundos
e eu me torno mais densa
esse grito que dou na sua cara se torna mais denso
sorte sua o banho de piscina ter te tirado a audição
e no colo das coisas tangíveis eu localizo uma flor
porque tudo que posso tocar não me é viável
eu permaneço intacta
você não me toca
mas como eu disse pra você num dia de primeiro quarto crescente
que minhas ideias novas não surgem de discursos livres
eu apenas lembrei de uma fala, não era uma constatação
e eu pude ver em seu rosto o medo da liberdade
porque ser livre justificaria minhas ações
e nós prometemos não falar sobre isso
não acabe com o meu nome riscando-o no seu braço com essa caneta
eu gosto quando você fala
e poder ouvir meu nome na sua boca é o toque que eu não sinto
você percebe o quanto tira de mim aquilo que eu não tenho?
você me diz que eu só vivo num mundo paralelo
onde aparentemente é mais viável ser mais bicho que silêncio
e eu só acredito no corpo
o corpo é tudo
e no limbo que é a arquitetura média desse quarto
depois de alguns longos anos morando sozinha
eu poderia usar dessa máquina de lavar para aliviar minha frustração
lembrando daquele filme pernambucano que você me mostrou
quando conversávamos sobre o cinema de recife
e parecia sempre perto do dia 25 no calendário lunar
éramos eu você essa flor e essa lua
vendo uma mulher se masturbando enquanto lavava roupa
não tenho medo, nunca, jamais, da solidão
é só que eu não aguento
depois que você resolveu vir morar comigo
e eu preenchi a minha casa com metade do seu vazio
vi que é melhor não ter a ter e ter que perder de novo
e é por isso que eu grito crua na sua cara
e peço que você vá embora
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