08 dezembro, 2017

você poderia, por favor, permanecer na janela?

tateias, cega, o ventre frágil de um bicho
olhas pra mim, tenho cara de subversiva?
tenho na língua algum gosto de vingança?
não verei chances em peles pretas
não verei suor como lubrificante
é o que vejo a rede balançando em silêncio
porque há algo de exaustivo em ouvir a própria voz
e por isso os escândalos
e por isso a rouquidão

tateias, indiferente, a nuca flácida de um bicho
a transa rápida se deve aos vários homens
mas nós temos o nosso próprio ritmo
nossas notas dissonantes
e busco alívio na mão que pesa
em minhas coxas tua unha é só miragem
mas eu sinto

tateias, cativante, o solo úmido de um bicho
são teus passos maciços sobre meu eterno cansaço
pra eu poder pedir pra rua que me encara amarga
mais olfato que visão
porque eu não tenho mais o mesmo rosto
e eu não percebo mais os mesmo rostos
eu não enxergo ninguém

tateias, paciente, o colo raso de um bicho
eu te veria tão bonita comentando filme mudo
que eu só me calo
sinto um peso breve quieto em minhas coxas
é você dando pausa
é que eu não posso deixar que façam casa na minha cabeça
eu te diria que não faça casa na minha cabeça
não agora

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